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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

4º Capítulo da novela "Escritos da Alma"


 

A mulher ficou assentada esperando para começarem a servir o almoço, pediu a Kamila uma água e ficou mexendo em sua bolsa. Logo o almoço já estava todo pronto para ser servido e o restaurante encheu um pouco, mas não sendo um movimento satisfatório.

_ Ô meu Deus, manda mais clientes, nós precisamos tanto desse emprego - disse Letícia olhando para o alto e depois para Kamila - o negócio não tá bonito não.

_ Letícia - disse Kamila - eu sei que semana passada eu já saí cedo para olhar sobre o curso de informática, mas é que hoje eu quero passar na casa de minha mãe para ver a Pérola. Estou morrendo de saudades.

_ Tudo bem, eu quebro essa pra você e se o chefe perguntar eu digo que foi programado.

_ Obrigado viu amiga, obrigado mesmo.

_ Kamila, trate de resolver essa situação e leve a Pérola pra morar com você, vai ser melhor.

 _ Estou olhando isso já Letícia, milha filha vai morar comigo em breve.

O horário de almoço passou voando e o restaurante já estava vazio, Samuel ainda estava por lá, lembrou de Davi e resolveu levar alguma coisa para ele comer, mesmo seu amigo ter dito que não estava com fome. Ao chegar na redação do Jornal encontrou com Moisés Vilar conversando com Lúcio e Davi.

_ Bom, vou ser o mais breve possível - disse Moisés - estou de olho no serviço e no desempenho de todos os meus funcionários e vocês sabem o quanto acredito no potencial de cada um e também na oportunidade de crescimento aqui dentro. Diante disso, quero convidar o Davi para assumir a administração do Jornal juntamente com o Lúcio. Eles irão trabalhar lado a lado para que o jornal físico e digital chegue às pessoas impecável e dinâmico. Estão de acordo?

Todos os 12 funcionários da redação aplaudiram e concordaram dizendo que realmente o Davi estava merecendo essa oportunidade, menos Fred, um jornalista ambicioso e mentiroso que, entre os dentes, fingiu se alegrar com a promoção do colega de trabalho. Ao terminar a anunciação ele foi correndo ao banheiro e com muita raiva chorou horrores.

_ Não acredito! Eu trabalho aqui há 10 anos e não consegui uma promoção, a não ser passar de faxineiro para alguém que só responde e-mails. Isso não vai ficar assim, esse lugar era pra ser meu e...

Lúcio entra e vê Fred se lamentando e diz:

_ ...Ora o que temos aqui, um rapaz insatisfeito com a promoção do colega de equipe. Sabia que eu posso te prejudicar por isso? O Davi não pode ser melhor do que você? Eu te avisei Fred, você não quis me ouvir e no mais...

_ ...Cala boca Lúcio, está nos seus olhos que você também não ficou nada satisfeito com essa notícia. Você detesta o Davi, eu não. Só estou inconformado com o que o Moisés fez.

_ Uhmm! Esperto você. Talvez, se juntássemos nossas forças poderíamos, sei lá, tirar essa pedra do nosso caminho.

_ Eu, fazer acordo contigo? Nem pensar. Tô fora, prefiro engolir "guela" abaixo isso e ficar no meu canto.

_ Tá. Como quiser. Eu achei que você poderia querer armar alguma coisa pra tirar o Davi daqui assim como você fez com a Gabriel, o Eliseu e a Tânia. Só não falei nada porque eles me irritavam e você acabou me fazendo um favor.

_ Você não vale nada Lúcio.

_Eu sei, não ligo pra quem diz isso. Pensa com carinho e depois você me procura. Te pago bem.

Lúcio se retirou do banheiro e Fred, pensativo, ficou olhando para o espelho. Ele lavou o rosto voltou para a sua mesa.

Enquanto isso Davi tinha acabado de receber os cumprimentos dos colegas e abraçou fortemente Samuel.

_ Conto com o seu apoio amigo. Vai ser duro trabalhar lado a lado com o Lúcio, mas eu não vou desistir.

_ Isso mesmo, você sabe que tem sempre o meu apoio e para comemorar isso te trouxe uma quentinha. Você ficou procurando esse seu poema e não comeu nada.

_ Verdade. E eu não achei o meu poema, to mal por isso.

_ A Kamila, lá do restaurante, estava com um versinho na mão. Eu acho que é seu.

_Sério?

_Sim.

_Vou lá agora. Esses versos são importantíssimos para mim.

_Espera Davi, come primeiro e... 

Davi saiu correndo e Samuel colocou a quentinha em cima da mesa do amigo e viu mais um verso que seu amigo havia escrito.

 

 "Cansei de mim,

pois há passados que me torturam.

Tão sem fim,

são as dores que perduram

Dei tudo de mim,

E por mais que o tempo passa

Ao invés de paz, tenho sentimentos que me amarguram"

Davi Emanuel

_ Meu Deus! Por que o Davi escreve essas coisas cheia de sentimentos?! Aí tem, não é normal isso. Parece que está querendo dizer alguma coisa. Vou ter que descobrir, meu amigo pode estar precisando de ajuda.

Samuel ficou pensando no verso e depois voltou para o posto de trabalho.

Já Davi, ao chegar no restaurante, entrou tão depressa que esbarrou naquela mulher cheia das poses que estava acabando de sair do estabelecimento. Ele se desculpou sem olhar para ela e foi direto ao caixa onde Letícia estava.

_ Léticia! Eu preciso lhe perguntar uma coisa.

_ Nossa Davi,  se for almoço acabamos de retirar, não vai dar mais.

_ Não, não é isso. Você ou alguém aqui por acaso achou um versinho, um poema caído pelo chão ou em cima da mesa?

_ Um versinho?! Ah, sim. Lembrei. Então é você o poeta? Por que você nunca me contou que escreve coisas tão bonitas! 

_ É algo bem pessoal Leticia, eu geralmente quando me vejo, já estou com a caneta e o papel na mão. Acredito no poder das palavras.

_ Vou pegar pra você eu deixei na minha bolsa, mas depois tirei e coloquei aqui nessa gaveta e caso o dono ou dona aparecesse eu... Ora, não está mais aqui. Será que a Kamila pegou?

Nesta  hora Letícia lembrou que Kamila segurava um papel enquanto conversava com Samuel e que não a viu colocar no lugar.

_ Poxa Davi, eu tinha deixado bem aqui, mas deve ter voado ou alguém mexeu. Fica tranquilo, amanhã vou procurar direito. Estou cansada acabei de ajeitar tudo e vou embora. Santana, Edivaldo fechem o restaurante hoje pra mim?

Eles, que estavam terminando de varrer a frente, fizeram com que sim com a cabeça e Letícia foi saindo de trás do balcão. Davi lhe disse:

_ Obrigado. Tomara que você ache. As vezes o que a boca não consegue falar, a alma fala por meio das palavras.

_ Verdade, a gente podia marcar de sair hoje. E você me conta mais sobre esse lado seu poeta que eu não conhecia.

_ Tá bom. Obrigado. Te ligo mais tarde.

Davi retornou para a redação frustrado e continuou o seu trabalho.

Enquanto isso, Kamila que havia saído mais cedo, foi até a casa de sua mãe, dona Laura, ver sua filha. Ao chegar lá, teve uma grande surpresa.

_ Como assim a Pérola não está mãe?

_ Ora filha, você sabe como a Rita é. Ela esteve aqui ontem e levou a Pérola. Disse que como mãe do pai da Pérola, tem o direito de passar um tempo com a neta.

_ Claro que ela tem direito, mas tem que me avisar. A Senhora tinha que ter me ligado.

_Filha, mas meu celular está estragado e para mim despencar daqui do Cruzado até Baixada Formosa é uma vida, eu não tenho mais disposição pra isso.

_ Você sabe mãe como a Rita é, vai fazer de tudo para segurar a menina de novo com ela.

_ Eu sei, já lhe disse isso. Aquela mulher não presta. Mas se for olhar bem, a Pérola ficou a vida toda com ela. A menina tá acostumada mais com ela do que com você que é a mãe. Também você foi caçar se envolver com o filho daquela mulher.

_  Não fale assim do Silas. Ele foi um grande homem pra mim. 

_ Tão grande que sumiu no mundo a oito anos e até hoje, se não fosse tido dado como morto, nem as caras por aqui teria dado. 

_ Chega mãe!

Kamila pega a foto de sua filha que estava sobre a mesa de centro, abraça forte e diz:

Minha filha, a mamãe está indo atrás de você.

 

Continua...

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